Lula vs Bolsonaro: Briga Legal no Brasil

Lula vs Bolsonaro: Briga Legal no Brasil

Neste preciso momento estão a decorrer as eleições para a presidência do Brasil ou, como eu prefiro designar, uma prestigiada porrada legal entre o nosso povo irmão. Tal porrada, de tão prestigiada que é e de tão legalizada estar, necessita, naturalmente, de alguém que conduza as hostilidades. Visto que ninguém se chega à frente, assumo aqui o papel de locutor de uma eleição que se revela bem menos porreira que uma caipirinha fresquinha.

De um lado do octógono político, temos o regresso de um cefalópode experiente por estas ondas, o encarcerado ilibado por corrupção, o homem dos jatos bem lavados… é o Lulaaaaa da Silvaaaaa! Já no canto oposto e a defender o título, temos o impulsionador da gripezinha, o rufia incumbente das trollagens épicas, o elevador de anões… é o Jaiiiiiiiir Bolsonaaaaroooo!

O eleitorado fica ao rubro, ainda que seja notória a sua divisão. Encontra-se todo o tipo de votantes nas bancadas: há quem agite tentáculos com vigor, quem solte apupos com pujança e até quem demonstre a mobilidade do dedo do meio com robustez.

Ao soar da campainha, Bolsonaro e Lula tocam luvas e a algazarra estadista começa. Bolsonaro é impulsivo no combate e desfere muitos golpes baixos, mas de dano reduzido; já todos estão familiarizados com o gancho de direita energizado pelos evangélicos, por exemplo. Lula, em claro contraste, permanece sereno e imóvel, de olhos fechados e quase a meditar. Nem precisa de contra-atacar, pois sente que a presidência de Jair Bolsonaro constitui o melhor argumento para a não reeleição de Jair Bolsonaro. Aliás, o rumor nas favelas é que caso Jair vença, as pessoas estão mentalmente preparadas para Jair embora.

É importante salientar que se encontram no octógono mais 9 astutos lutadores, porém já de toalha ao pescoço e a beber água no cantinho, interrogando-se porque é que se foram meter naquilo, se o que a malta gosta é mais do mesmo.

O combate político foi decorrendo com a naturalidade expectável de uma contenda deste nível e as sondagens apontam Lula como o vencedor. Desesperado, Bolsonaro lança a sua última cartada e um silêncio abate-se subitamente sobre a arena, ouvindo-se de imediato um barulho ensurdecedor. Não, não é o grito do Ipiranga. Trata-se do jogador de futebol Neymar a fazer uma dança de TikTok com sorrisinho aparvalhado, torcendo por Bolsonaro. Há quem ache ridículo, inclusive quem invada o recinto brandindo uma havaiana na mão para resolver tudo à chinelada.

Pessoalmente, reconheço que este cântico de campanha é irritantemente eficaz, pois o simples verso ‘Vota, vota e confirma: Bolsonaro é 22’ não me dá tréguas mentais. Questiono, no entanto, a utilidade prática do conselho de Neymar. Levado à letra, Neymar encoraja os eleitores a votar 2 vezes (e a confirmar). Ora, tal seria ilegal. Como Bolsonaro afirmou veementemente que apenas reconheceria as eleições como válidas se a votação fosse pura e sem trapaças, esta torcida final de Neymar revela-se uma impossibilidade lógica tremenda. Eis senão quando a campainha soa de novo e fica tudo envolto nas trevas da incerteza. Aguarda-se o veredicto; haverá KO técnico ou terá o povo brasileiro de se erguer para uma 2ª ronda?

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